Pela economia paralela, marchar, marchar

Foto de Vítor Cid

A um técnico superior devidamente assalariado, em Portugal, convém manter contabilidade doméstica. Digo técnico superior porque estou a pensar num rendimento mensal superior a mil euros, ou seja, uma fortuna. O técnico superior não pode gastar levianamente em extras, e jamais sem consultar o saldo bancário, mesmo em básicos. Vamos lá ver: se o técnico superior precisar de pintar a casa, e de realizar nela um conjunto de reparações diversas, entre contratar uma empresa qualificada, que emitirá um recibo para dedução no IRS, a troco de boa nota, ou combinar o trabalho com um biscateiro que faça o mesmo, trabalhando à razão de 50 ou 60 euros diários, não passando recibo, não declarando, nada, tudo em paralelo, que solução escolherá o técnico superior por muita civilidade que tenha acumulado? Dar trabalho na economia paralela ao sr. Maurício, desempregado da construção civil, que se conhece do café, vive do rendimento mínimo, e precisa de ganhar algum por fora, para sobreviver,  beneficia duas casas. Há que fazer pela vida. Para onde prefere o técnico superior que a sua parca poupança vá? Claro que a empresa desconhecida, fria, formal, careira, porque paga os seus impostos certinhos e contribuições sociais, tudo legal, vai à falência e a economia não se aguenta. Poder-se-ia contratar o Sr. Maurício enquanto empresa, mas o sr. Maurício não aguenta os impostos, portanto a economia paralela continua a ser a única opção de vida para a classe baixa a que se chama média. As empresas servem empresas e ricos (não especulemos agora sobre como acumularam riqueza, mas a trabalhar não foi) com dinheiro para o offshore. Os pobres desenrascam-se uns com os outros nos dias em que não estão a vergar a mola para ganhar os seus mil euros mensais, caso sejam técnicos superiores muito bem pagos. Portanto, caros economistas, políticos e afins, ou os salários sobem ou os impostos descem, mas sem uma destas prerrogativas não há hipótese de eliminar a fuga ao fisco nem de os cidadãos sentirem algum orgulho em contribuir para o desenvolvimento da nação através do pagamento de taxas.

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